quinta-feira, 2 de julho de 2015

Bastion

Uma história adequada deveria começar do início. Não é tão simples com essa. Aqui está um garoto cujo mundo foi destruído, deixando-o preso em uma rocha no céu.
Ele se levanta. Dirige-se ao Bastião. Onde todos concordaram em ir em caso de problemas.

Assim como To The Moon, Bastion foi um jogo que eu deixei passar durante muito tempo. Ouvi pouquíssimo sobre ele, para dizer a verdade. E então, graças a uma ficha de classe de Dungeon World, o sobrevivente, minha curiosidade foi desperta e fui atrás do jogo.

É um jogo curto. Finalizei ele em cerca de 10 horas na primeira jogada. Apesar de linear, ele tem uma jogabilidade muito divertida. A dificuldade do jogo escala junto com suas opções. Ele é divertido do inicio ao fim.

E a história. Ah, a história. Simples, mas contada de uma forma magnifica.


Gameplay

Bastion é um jogo isométrico (pensem em Diablo) e tem uma curva de aprendizado interessante. Cada uma de suas fases vai apresentando novos inimigos, suas táticas e como vence-los. O jogo tem alguns chefes, que mais tarde vão voltar a aparecer como inimigos normais nas fases. Mas em geral, o desafio final de um cenário vai envolver ondas de inimigos ou corridas enquanto as plataformas que formam o cenário caem.

É do tipo que gosta de customizar sua jogabilidade? Não se preocupe. Distribuídas pelas fases, você vai encontrar 11 tipos de armas diferentes, desde martelo e besta até morteiro e canhões de energia. Não gostou da arma que aquela fase te ofereceu? Pode ficar tranquilo. Em todas as fases que te dá novas armas, há também um arsenal para você substitui-las. Você pode escolher duas, uma para o botão esquerdo e outra para o direito do mouse, sem restrição de tipo (eu mesmo no final do jogo tava usando só armas de fogo em todas as fases). Cada arma ainda tem 5 estágios de upgrades, e você pode alterar a vontade entre as opções que escolheu, permitindo que uma mesma arma possa ser usada de formas diferentes.

Além das armas, você ainda conta com habilidades, que vão desde coisas como golpes especiais para cada arma até se tornar invisível deixando um espantalho para os inimigos atacarem, ou lançar granadas. Algumas delas são desbloqueadas apenas se você conseguir o primeiro lugar num campo de provas, que te força a descobrir os melhores jeitos de usar cada arma. E não pense que é fácil: em muitos deles você vai demorar bastante, e conseguir vencer por muito pouco. Mas são adições divertidas que te desafiam e te forçam a pensar em todas as opções que o personagem pode ter.


A dificuldade do jogo é fixa, mas escala com as fases - o que era difícil no inicio vai se tornar simples mais para a frente. Ainda assim está achando tudo muito fácil? No santuário, você pode escolher alguns deuses para adicionar dificuldades em seu caminho e aumentar os prêmios em fragmentos e experiência. Exatamente, você faz o jogo tão difícil quanto quiser. Há um tipo de evolução também no jogo, que aumenta um pouco sua quantidade de vida máxima e libera espaço para você adicionar mais e mais bebidas na destilaria, que concedem bônus ao personagem.

Os fragmentos são "partes do mundo antes da calamidade". Você usa eles como uma espécie de moeda, para fazer upgrades em suas armas e comprar itens. Além de matar monstros e destruir cenários, você ainda pode ganhá-las cumprindo as missões do memorial. Você honra as pessoas mortas na calamidade  fazendo feitos impressionantes com algumas armas e coletando coisas durante o game, para ganhar ainda mais fragmentos.

Durante todo o jogo você também será acompanhado pela narração de Rucks. Ele comenta desde a história do mundo, ambientando e dando sentido a muito do que você vê, até detalhes menores, como suas escolhas de armas e quedas do cenário. Isso pode parecer monótono, mas as frases nunca se tornam repetitivas. A narração é um dos principais elementos que torna Bastion tão interessante.

Mas nem tudo são flores, e o jogo tem alguns pequenos defeitos. Muitas vezes andando pelom cenário isométrico, eu cai das plataformas. Isso é penalizado apenas com um dano minimo, mas ainda é irritante. Na verdade, durante todo o game eu devo ter caído das plataformas mais do que tomei porrada de inimigos. A linearidade das fases também pode se tornar um pouco chata - você sempre pode tentar de novo caso morra uma vez. Mas se morrer uma segunda, a fase tem que ser feita de novo desde o começo. Talvez se o jogo fosse menos linear e você pudesse apenas mudar de fase quando isso acontece, o sentimento não seria tão frustrante.

Personagens


Kid, o personagem principal e silencioso sem nome. Ele acorda em uma ilha flutuante após a calamidade, e sua história é contada aos poucos durante o jogo. Você descobre sobre sua mãe falecida e sobre suas duas idas para as muralhas em volta de Caelondia: até então ninguém tinha se voluntariado a servir uma segunda vez. Graças ao tempo na muralha, ele é extremamente proficiente em combate com tipos diferentes de armas. Seu maior desejo era se tornar um Marechal.

Rucks é o primeiro sobrevivente que encontramos no jogo. Caelondiano como Kid, ele projetou o Bastion, e também as muralhas em volta da cidade. Sua função durante o jogo é como guia e narrador. Ele também parece ter servido ao exército. Alguns teorizam que ele seja Kid, que tenha voltado no tempo, pelas semelhanças (o cabelo branco, o lenço vermelho, e ele também tem um martelo preso em seu cinto), ou mesmo o pai que o garoto nunca conheceu. O jogo é inconclusivo, deixando para que o jogador faça suas teorias.


Zulf é um Ura que perdeu os pais muito cedo. Criado por um missionário Caelondiano, ele recebeu educação exemplar e se tornou uma pessoa que acreditava na paz. Quando seu pai adotivo morreu, ele partiu para Caelondia para continuar o trabalho dele e acabar com o conflito entre as duas nações. Conheceu muitas pessoas, incluindo uma garota que conhecia a cidade profundamente e por quem se apaixonou. Quando Kid finalmente o encontra, ele acabou de passar pelo pior momento de sua vida, encontrando a mulher morta pela calamidade assim como todos os outros. Ele serve como antagonista durante o jogo, revoltado por sua descoberta sobre a calamidade.


Zia também é Ura, só que ela cresceu muito longe de seu povo. Seus pais foram motivados a permanecer entre os Caelondianos quando o conflito se agravou, para evitar que segredos sobre a cidade se espalhassem. Sua mãe morreu por complicações no parto, e o pai, que trabalhava muito, tinha pouco tempo para ela. A garota dedicou-se aos estudos, principalmente da música. Após conhecer um rapaz e tentar fugir com ele, ela foi traída, e seu pai ameaçado. Em sua despedida, seu pai pediu para que ela se escondesse, e quando ela saiu do esconderijo, tudo já tinha sido destruído. Zia provavelmente tem uma das frases mais marcantes do jogo, dizendo a Kid que todos os momentos felizes que ela teve em sua vida aconteceram após a calamidade.


Analise

Bastion foi um jogo que me causou muitas emoções. O ambiente normalmente causa solidão, mas acompanhada de paz. A trilha sonora incrível contribui muito para isso. Cada uma das músicas do jogo é bela e bem construída, e encaixa-se como uma luva nos momentos em que é usada. E nos momentos mais tensos de combate ou fuga, as coisas realmente se tornam animadas. A diversidade de armas torna a jogabilidade fluida e muito difícil de se enjoar.

A história e os personagens são um show a parte. A história de Bastion é simples, uma guerra entre dois povos que termina de forma trágica. Mas ela é contada de uma forma primorosa graças a narrativa de Rucks. Zulf é um vilão, mas também uma vítima das circunstancias.

Existem algumas músicas cantadas no jogo. Mas elas não são simplesmente cantadas: elas se encaixam em momentos da história em que os próprios personagens as estão cantando. Uma delas depende de suas escolhas no final do jogo.

O jogo oferece poucas variações de final. São duas escolhas simples. Para evitar spoilers de mais, vou dizer apenas que eu não consegui escolher outra coisa a não ser salvá-lo e seguir em frente.

Na minha experiência, senti que as temáticas principais de Bastion são o perdão, para evitar que um ciclo de ódio e destruição continue, e seguir em frente, pois contemplar o passado não corrige erros nem traz nada de volta.

Se você acompanhou até aqui esse artigo, pode ter certeza que eu recomendo que você jogue Bastion. Esse jogo com certeza merece:


O jogo tem sim alguns problemas com a jogabilidade e linearidade, e a história realmente não é inovadora. Mas a experiência de jogo, unida as horas de diversão e desafio que o jogo vão te trazer já valem a recomendação. Aproveitem esse mundo, muito mais belo depois da calamidade.

Boa semana e até mais.